Ispa N1 Minuto | Newsletter #30 – Junho 2023

Miguel

Especialistas em Comportamento

Miguel Roque Dias, Gestor de comunicação do Ispa – Instituto Universitário

Com seis décadas de história, o Ispa mantém a irreverência e a disrupção que marcou Portugal aquando da sua fundação, como a primeira Escola Superior de Psicologia do país. Numa altura em que as preocupações com a saúde mental, com a relação com os outros e com o contexto que nos rodeia estão cada vez mais presentes no quotidiano, o Ispa demarca-se e assume-se como Especialista em Comportamento.

Ao longo dos seus 60 anos, Professores e Investigadores do Ispa desenvolveram e/ou participaram em estudos e projetos que têm hoje impacto direto nas nossas vidas e que nos ajudam a percebermo-nos melhor e também a perceber os outros. Não é só na Psicologia que somos Especialistas em Comportamento: Na área da Educação, o Ispa diferencia-se através dos seus ciclos de estudo em que se destaca a valorização da diferença e das relações de confiança e proximidade, tendo sempre o desenvolvimento da criança no cerne da abordagem pedagógica. Na área da Biologia, solicitamos os nossos estudantes a uma constante descoberta dos organismos e dos ecossistemas que integram, num continuum em que novas hipóteses e teorias sobre o mundo vivo se validam e/ou refutam através de uma investigação de excelência.

Somos agora também Especialistas em Comportamento no mundo digital. O Ispa mostra, mais uma vez, que está na vanguarda e lança a primeira licenciatura do país que alia a Psicologia à análise de dados. A licenciatura de Ciências Cognitivas e do Comportamento arranca este ano letivo de 2023/24 e oferece aos estudantes a oportunidade de ingressarem no mercado de trabalho como UX Researcher e/ou Data Scientist, profissões que estão em franco crescimento.

E porque nós percebemos que os jovens estão constantemente ligados às plataformas digitais, o Ispa acaba de lançar uma campanha que conta com uma comunicação e linguagem adaptadas a um público jovem – com imagens que se relacionam com o seu quotidiano – e assume um posicionamento de conhecimento sobre a forma de gestão da frustração de não compreender alguns comportamentos e poder atuar sobre eles. “Nós percebemos.”

Luísa Carrilho 01

Luísa Carrilho é Psicóloga Clínica, Terapeuta Familiar, Psicoterapeuta Psicanalítica e Professora Universitária. Coordenou investigações que publicou e apresentou em conferências, orientou inúmeros estágios e teses em mestrados e doutoramentos. Assume-se como “uma mulher satisfeita com a vida e com projetos a realizar”.

Perfil

Outro dia, no cruzeiro no Douro, desses que saem de Gaia e vão até Peso da Régua, a Isabel numa longa e amena conversa durante o almoço, disse-me: “devias escrever as tuas memórias…”. Rejeitei de imediato, todavia hoje questiono-me: será que a minha idade, já mo permitiria?

 

Não deixa de ser interessante que venha agora o Miguel Roque Dias, do Ispa, numa entrevista colocar-me uma série de perguntas, que fazem apelo às minhas memórias.

Não tenho Facebook, nem Instagram … troco algumas mensagens no WhatsApp, com poucas pessoas. Tenho uma ideia de privacidade tão exagerada, que não autorizo as minhas visitas a tirarem fotos, em minha casa, para não correr o risco de ver o espaço familiar exposto.

Há 71 anos que nasci em Lisboa, mais precisamente em Alvalade. Embora por motivos diferentes, ausentei-me de Portugal e vivi por alguns períodos no estrangeiro.

As primeiras memórias que tenho de infância, prendem-se com o nascimento do meu irmão, e da parteira, a quem a cegonha que veio de Paris o entregou. E eu e a minha irmã a espreitá-la.

Mais tarde, o Mouchão em Tomar, onde andava de bicicleta e o Nabão onde aprendi a nadar e a remar… e no redondel o professor de equitação a colocar-me os estribos, eu era tão pequena, e a gritar-me para que endireitasse as costas, e puxasse as rédeas. E a imagem da minha avó materna, de quem tanto gostei, e que esperou que voltássemos de África para morrer.

Sou filha de um oficial da Força Aérea, que foi destacado para teatros de guerra em Angola e Moçambique. Já o meu avô paterno, oficial do Exército, tinha combatido na batalha de La Lys em 1918.

Nos anos 60, habitualmente as famílias acompanhavam os oficiais quando estes eram destacados. Lembro-me de termos estado na Base das Lajes, na ilha Terceira nos Açores, onde havia uma Base Americana. Via os aviões americanos a descolarem e em surdina, uma senhora americana, amiga dos meus pais dizia-me. “… vão para o Vietname.” Era a guerra deles. Depois confrontei-me com a nossa guerra colonial; após ter sido mobilizado para Angola em 1963, onde esteve, sem a família, teve nova mobilização então para Moçambique. Tinha eu 15 anos e foi muito doloroso deixar em Benfica, onde então vivíamos, os amigos, as colegas do Liceu Maria Amália Vaz de Carvalho, que então frequentava e chegar a uma cidade, a então Lourenço Marques, onde no liceu, nos primeiros tempos era “a miúda que veio de Lisboa”. A adaptação foi difícil… vivíamos na Messe de Oficiais da Força Aérea, mas fora desse ambiente era possível sentir que muitas pessoas não gostavam da presença dos militares e consequentemente das suas famílias.

Recordo como algumas colegas de liceu, viviam na expectativa do dia em que continuariam os estudos na África do Sul, país que visitei e onde recordo os sinais do apartheid, nos autocarros, nos bancos dos jardins, para brancos, para negros…

Mas a guerra nas nossas colónias mantinha-se e embora sendo jovens apercebíamo-nos, que havia militares, que morriam, o paraquedista, o piloto … não voltávamos a vê-los… e ansiávamos pelo regresso do nosso pai das missões no norte de Moçambique.

A minha mãe sempre muito triste… preocupada… só voltei a vê-la tão preocupada, quando receou pela carreira militar do meu pai, dado o seu envolvimento nas movimentações militares que antecederam o 25 de abril de 1974.

Entretanto regressámos a Lisboa e aos 18 anos fui emancipada. Nesse tempo, ia-se ao Registo Civil para ser emancipada… e fiquei à minha guarda. Voltei ao mesmo registo civil, em Oeiras, para registar os meus filhos, quando nasceram e para casar.

O Registo Civil já não existe no mesmo local. Os anos passaram. Tudo tem mudado muito…

Após a emancipação, decidi ir viver para Londres. Eu até já tinha passado o “Cabo das Tormentas”, quando viajei de barco de Lisboa para Moçambique.

Londres era, em setembro, quando aí cheguei, uma cidade chuvosa, cinzenta e triste. Embora vivendo em Richmond, uma zona agradável, no início dos anos 70, com parques e jardins, faltava-me o sol e “o meu querido Tejo”. Concluídos os estudos para melhorar o meu inglês, optei por me mudar para Paris, onde gostei muito de viver. Vi pela primeira vez uma manifestação na rua, e os manifestantes a serem repelidos pela polícia. Aprendi a gostar de Piaff e de Jacques Brel. Aos sábados visitava o Louvre e bebia um chá no Georg V, que já não é o mesmo. Ainda assim, sinto necessidade de voltar a Paris de vez em quando, para passear junto ao Sena, pelos jardins das Tuileries, visitar uma exposição no Musée d’Orsay, ir a Saint Michel e ao Sacré Coeur e claro a St. Germain-des-Prés almoçar no café” Les Deux Magots”. Ás vezes levo um neto, uma neta…, mas como são seis netos, e vamos a outros países, ainda não consegui levar todos a Paris.

Casei-me, e não por acaso, com um oficial da Marinha de Guerra Portuguesa. Tenho o privilégio de ter ao meu lado quem comigo concretizou projetos, me levou a velejar no Tejo e noutras paragens, que me incentivou a tirar a carta de marinheiro, e a aceitar os desafios que a vida me colocou.

Guardo dos anos 70 cenas familiares muito gratificantes, como estar na praia em Oeiras e os meus filhos gritarem “vem lá o submarino do pai!” e o Delfim ou o Albacora a passar ao largo do Bugio. Pegávamos nas trouxas e a correr saíamos da praia, sob o olhar de estranheza de algumas pessoas, e lá íamos para o Alfeite, acelerando no Mini, para chegarmos a tempo de o vermos a sair do submarino.

Talvez a formação que fiz, na Sociedade de Terapia Familiar, contribua para viver estas cenas com tanto romantismo e gostar tanto da minha família.

O ter escrito o livro “Generais e Almirantes de amanhã. As Forças Armadas no Feminino” cuja apresentação do mesmo, a Dra. Maria de Belém Roseira me deu a honra de fazer, aquando do lançamento no Clube Militar Naval, deve-se à proximidade familiar que tenho às Forças Armadas. Os outros livros que escrevi, têm sempre a ver com as minhas vivências.

Entretanto e antes da Revolução de 1974 voltei a Portugal.

Foi então que entrei no ISPA, escola de que guardo muito boas memórias. Colegas como a Madalena Fenha, a Isabel Mata, o António Candeias, o Carlos Falcão, o João Sebastião e a Isabel Fininha. Eramos um grupo muito especial.

É com agrado que hoje vejo colegas de curso, como a Isabel Leal, Reitora do Ispa ou a Noélia Canudo (Ni), Diretora do Serviço de Psicologia do Hospital Júlio de Matos.

Diplomei-me em Psicopedagogia, licenciei-me em Clínica e mais tarde concluí o mestrado em Psicopatologia e Psicologia Clínica.

Aprendi com muito bons Professores, Maria Benedita Monteiro, Azevedo e Silva, com quem tive aulas no extinto Hospital Miguel Bombarda, Maria Clementina Dinis com quem estagiei no Hospital Júlio de Matos, Daniel Sampaio que também foi meu professor na Sociedade Portuguesa de Terapia (SPTF), Bairrão Ruivo, que passados anos, encontrei na Universidade do Porto, onde fiz o doutoramento. No dia da defesa da tese encontrei-o, por acaso, as suas palavras “… vai correr bem Luisa… “, foram-me tão importantes. Com frequência deslocava-me ao Porto    para reunir com o meu orientador, Jorge Negreiros. Desde então que gosto do Porto, onde, ainda hoje, os lojistas me chamam “a menina”. Amaral Dias que viria a ensinar-me na minha formação como psicoterapeuta.  Correia Jesuíno, que nos iniciou nas teorias de Piaget… foi sob a sua orientação, que mais tarde, fiz uma investigação sobre o stress em pilotos da aviação comercial, que me comprometi com a TAP, a não divulgar os resultados. E cumpri. Gostei de o reencontrar há uns meses, estávamos ambos a almoçar no Clube Militar Naval. Frederico Pereira, recém-regressado de Paris, que seria, mais tarde, meu orientador da tese de mestrado sobre toxicodependência, que resultou da investigação que realizei aquando da minha integração na equipa da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, sob orientação de Jorge Negreiros no âmbito do Projeto de Prevenção da Toxicodependência da Câmara Municipal de Lisboa. José Gameiro, com quem fiz supervisão de terapia familiar, na SPTF, sugeriu-me, à época, que publicasse a referida tese. “Meia Laranja-O que os jovens pensam da toxicodependência” foi publicado em 1995. No lançamento do livro, a saudosa Dra. Maria de Jesus Barroso, muito me honrou ao aceitar presidir ao evento. E obviamente, António Coimbra de Matos com quem fiz supervisão de casos, na minha formação como psicoterapeuta psicanalista. A sua discreta presença no lançamento do meu primeiro livro, foi muito importante para mim. Durante anos enviei-lhe postais de Boas Festas. Nunca deixou de me responder. Outro dia participei numa homenagem que lhe foi feita. Foi bonita… e merecida. Subimos o Douro até Peso da Régua e fomos a Galafura.

Fiz uma longa análise. Aprendi a lidar com os bons e os menos bons acontecimentos da minha vida. Penso que a todos os psicólogos deveria ser exigido fazer uma psicoterapia pessoal. Há tanta gente sem qualificações a fazer pseudo psicoterapias. Talvez a Ordem devesse ter uma vigilância mais persistente, sobre esta matéria.

Para além do meu percurso profissional na Academia, onde fui Presidente de um núcleo de investigação e responsável por um departamento de Psicologia da Justiça, e dei aulas em várias universidades em Portugal e num MBA no Brasil. Coordenei investigações que publiquei e apresentei em conferências, orientei inúmeros estágios e teses em mestrados e doutoramentos.

Dei aulas no âmbito da Formação Profissional em Portugal, Angola, Cabo Verde, Brasil e França.

Fui membro da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens de Oeiras, durante anos.

Tive um programa na rádio, em que fazia entrevistas a pessoas que, de alguma forma, tinham relação com o concelho de Oeiras. Estava longe de pensar que um dia seria vereadora não executiva no concelho.

Trabalhei durante anos, na maior companhia de aviação portuguesa – TAP. Guardo boas memórias de grande companheirismo; colegas com quem ainda me relaciono. Infelizmente, outras menos boas, como fazer parte de um Gabinete de Psicologia que era chefiado por um médico que se dizia psicólogo.

Quando me reformei da TAP, fiz uma viagem à volta ao mundo. Gosto muito de viajar e tenho-o feito. Aprendo muito com as viagens que faço.

Alguns dias depois de estar reformada, fui convidada para me candidatar a vereadora da Câmara Municipal de Oeiras, o que aceitei. A análise do exercício destas funções ficará para outros tempos, porque ainda me é exigido algum distanciamento.

Abandonei o ski quando fiz 70 anos. Ainda fomos em janeiro à Sierra Nevada. Foi a despedida. Deixei-me das passeatas a cavalo com os meus netos. Mas vou ao ginásio, e continuo a ter aulas de pintura.

Faço parte de um grupo de leitores, onde comentamos livros de diferentes autores. Este ano lemos entre outros Kazuo Ishiguro, Annie Ernaux, Anton Tcékhov e Valter Hugo Mae, cuja obra “A Máquina de Fazer Espanhóis” recomendo. Estou agora a ler as Crónicas de António Lobo Antunes, autor que gosto de ler nos longos períodos que passamos no Alentejo, onde encontro o silêncio que a minha idade me vai exigindo, entrecortado pelas visitas dos meus netos, filhos e amigos.

Volto sempre a Lisboa para ir aos concertos do CCB e da Gulbenkian, ao teatro ou ao cinema e aos bailados no teatro Camões, (eu queria ter sido bailarina…) ou para almoçar com a minha amiga Madalena, no Museu Nacional de Arte Antiga ou no Corte Inglês.

Sou uma mulher satisfeita com a vida e com projetos a realizar, ainda para além de 2023.


Terapia Familiar “Fora de Portas”

Mariana Pires de Miranda *

Nos passados dias 22 e 23 de junho, o Ispa – Instituto Universitário, a Sociedade Portuguesa de Terapia Familiar e a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa promoveram conjuntamente o Encontro “Fora de Portas – Terapia Familiar e Intervenção Sistémica com a Comunidade”.

Quando uma profissão descobre a importância da Comunidade, geralmente dá origem a uma subespecialidade, na Psicologia, a Psicologia Comunitária, na Medicina, a Saúde Pública, etc. Em muitos casos, este processo leva a que a subespecialidade referente à Comunidade fique marginalizada em relação à corrente maioritária da disciplina, com, inclusivamente, um decréscimo significativo na interação significativa entre os membros dos dois grupos (Doherty, 2022).

Estreitando esta reflexão para o campo da Terapia Familiar e da Intervenção Sistémica, muitos dos modelos de investigação, intervenção e formação têm-se desenvolvido tendo como referência settings mais classicamente associados a espaços psicoterapêuticos: consultórios privados e clínicas, centros de saúde e hospitais, etc. Em paralelo, a terapia familiar comunitária e os modelos de intervenção com as redes primárias e secundárias têm continuado o seu caminho, trazendo continuamente novos contributos “fora da caixa” a velhas questões psicossociais “fora de portas”, de que são exemplos: Como desenvolver uma escola com a comunidade? Como articular com os tribunais? Como habitar um território? Como intervir com famílias de jovens em acolhimento residencial? E com famílias de acolhimento? 

Este encontro foi desenhado exatamente para promover uma reflexão e uma troca de experiências sobre a intervenção clínica e a sua modelagem pelos contextos sociais e institucionais “fora de portas”. 

Foi um encontro estruturado a partir de três vértices: a investigação científica, a formação e a intervenção, com mesas que partiram da conceptualização teórica passando pela partilha de experiências em contextos de intervenção muito diversos, terminando com uma reflexão sobre as avenidas de futuro para a intervenção clínica com indivíduos, casais, famílias e comunidades. 

Um dos eixos que atravessou as diferentes intervenções foi a necessidade do envolvimento tanto das populações, como dos psicólogos e terapeutas (Rojano, 2004), numa lógica simétrica ao nível do poder e complementar ao nível das competências. Neste sentido, o terapeuta passa a ser também não só sujeito, mas objeto de reflexão. Neste encontro, procuramos aprofundar a reflexão sobre os lugares dos terapeutas familiares numa mesa com uma tripla vertente: do terapeuta em exercício da sua cidadania, o terapeuta em articulação com a produção de conhecimento e a desenvolvimento pessoal e humanidade do próprio terapeuta. 

Fica claro depois de um dia com 30 palestrantes, mais de 300 participantes, representando mais de 100 instituições académicas, de intervenção e de formação, que a terapia familiar comunitária não pode estar à margem do corpo central da terapia familiar. Mais, a terapia familiar com a comunidade está numa posição privilegiada para constituir um padrão de referência do que pode ser a disciplina no seu todo. É uma proposta para abolir este lugar “fora de portas” e trazê-lo para “dentro de casa”.


* Professora Auxiliar do Ispa – Instituto Universitário, onde é docente na Licenciatura em Ciências Psicológicas e no Mestrado de Psicologia Clínica; Terapeuta Familiar e Formadora da Sociedade Portuguesa de Terapia Familiar)

dISPAr Teatro: investigando as ligações entre artes expressivas, terapia e transformação social

António Gonzalez, Rita Barros e Nuno Amarante (APPsyCI, dISPAr Teatro)

O dISPAr Teatro, grupo de Teatro do Ispa, sempre se intitulou um grupo de pesquisa. Esta palavra, pesquisa, sempre teve várias leituras: pesquisa individual de cada pessoa que entra na nossa sala de ensaios, pesquisa teatral, com diversas criações em territórios charneira de diversas escolas teatrais e, mais recentemente, pesquisa científica.

A aposta do dISPAr Teatro no Teatro Playback, através do seu Projeto Eco, tinha assumidamente, desde o início, o objetivo de explorar as ténues fronteiras que este tipo de teatro tem com a psicoterapia e com a intervenção comunitária. O Teatro Playback (TP) é um tipo de teatro improvisado, inspirado no Psicodrama, no Teatro Comunitário e na cultura das narrativas orais, que se baseia nas histórias pessoais dos membros da audiência, para as transformar em objetos artísticos, criados pela equipa de playbackers e músicos. Habitualmente, as performances são únicas, mas há experiências em que um mesmo grupo recebe uma companhia de TP no decorrer de várias sessões.

Numa primeira intervenção a que chamamos “Grupo de Desenvolvimento Pessoal através do Teatro Playback”, estudamos os efeitos que um conjunto de 12 sessões de TP tem nos membros de um grupo fechado, em particular em termos de empatia e experiência de significado. Alguns dos resultados foram publicados em (1) e (2).

Ancorados nestes resultados, submetemos dois projetos a financiamentos diferentes. Como nos interessava, particularmente, trabalhar na área dos Direitos Humanos, submetemos uma candidatura ao Programa Cidadãos Activ@s, financiado pela Fundação EEAgrants, suportado pela Islândia, o Liechtenstein e a Noruega, sendo a Fundação Calouste Gulbenkian e a Fundação Bissaya Barreto as entidades gestoras do programa. O projeto “Dar Palco à Diferença – Incubadora de Companhias de Teatro Playback” foi aprovado e encontra-se em fase de implementação, estando a ser criadas três companhias de TP em três diferentes organizações parceiras, a ILGA Portugal, o Clube Safo e o Ultimacto (grupo de teatro da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa), que farão campanhas de sensibilização aos Direitos Humanos em escolas da Grande Lisboa, abordando temas como os direitos das pessoas LGBTI+, igualdade de género e do racismo, xenofobia e descolonização. Neste momento, verão de 2023, já aconteceram as primeiras campanhas nas escolas, e as seguintes irão 0c0rrer no primeiro período escolar de 2023/24.

A decorrer encontra-se, também, o projeto “Teatro Playback Terapêutico: estudo de impacto”, financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (2022.07713-PTDC). Pretendemos formar um grupo de terapeutas de grupo na modalidade de Teatro Playback Terapêutico, e com eles iniciar um conjunto de grupos terapêuticos, tanto em contexto privado como institucional, cujos participantes irão ser avaliados antes de iniciar e no fim das 12 a 15 sessões de terapia, em diferentes variáveis de relevância clínica. Encontramo-nos nesta fase a formar a equipa de terapeutas, com formadores fundadores do Teatro Playback Psicoterapêutico em Israel.

Associado ao projeto que decorre no Ispa, promovido pela APPsyCI, o Ciclo de Conferências “Ciência, Arte e Transformações”, iniciado em junho e que terminará em outubro e abordará temas da investigação psicológica associados a este projeto.

Por fim, o Projeto Eco, iniciou uma colaboração com a equipa do Centro de Estudos e Pesquisa da Operação Nariz Vermelho com o objetivo de conhecer os desafios que o seu elenco de artistas vive nas intervenções em contexto hospitalar. Para tal, o Teatro Playback está a ser utilizado como ferramenta de recolha e devolução de dados. Em breve teremos os primeiros resultados, em forma de artigo científico.

A equipa  de investigação da APPsyCI e do dISPAr Teatro estão desta forma a contribuir para a investigação nacional e internacional na área do impacto do Teatro na Saúde e Bem-Estar de indivíduos e grupos (Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 3). É uma área que tem vindo a viver um momento de desenvolvimento e expansão particularmente importante e excitante, e que nos permite aliar os nossos interesses enquanto cientistas e criadores e promotores de artes. Convidamos todas as pessoas a acompanhar esta nossa caminhada, seguindo as redes sociais do dISPAr Teatro e da AppsyCI.

(1) Amarante, N., Gonzalez, A.-J., Martins, P., & Gouveia, M. (2020). Significado e empatia: Efeitos de uma intervenção baseada em Teatro Playback. PSICOLOGIA, 34(1), 446-452. https://doi:10.17575/psicologia.v34i1.1681

(2) Gonzalez, A.-J., Xavier, T., Amarante, N., Barros, R., Amaral, B., Bernardino, M., & Lima, M. (2022). Playback Theatre: Group, stories, and stage as elements of change. The Arts in Psychotherapy, 81, 101968. https://doi.org/10.1016/j.aip.2022.101968


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Baltazar-Soares, M., Britton, J. R., Pinder, A., Harrison, A. J., Dominguez, A. V., Andreou, D., Nunn, A. D., Bolland, J. D., Dodd, J. R., Quintella, B. R., Mateus, C. S., & Almeida, P. R. (2023). Seascape genomics reveals limited dispersal and suggests spatially varying selection among european populations of sea lamprey (Petromyzon marinus). Evolutionary Applications. https://doi.org/10.1111/eva.13561

Gao, Y., de Waard, J., & Theeuwes, J. (2023). Learning to suppress a location is configuration-dependent. Attention, Perception, and Psychophysics. https://doi.org/10.3758/s13414-023-02732-2

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Guedes, M., Maia, R., Matos, I., Antunes, M., Rolão, T., Veríssimo, M., Santos, A. J., Chronis-Tuscano, A., & Rubin, K. H. (2023). Preliminary perceived intervention changes and engagement in an evidence-based program targeted at behavioral inhibition during early childhood, delivered in-person and online. Frontiers in Psychology14. https://doi.org/10.3389/fpsyg.2023.1187255

Low, A., Yu, Y., Sim, L. W., Bureau, J. F., Tan, N. C., Chen, H., Yang, Y., Cheon, B., Lee, K., Bakermans-Kranenburg, M., Tsotsi, S., & Rifkin-Graboi, A. (2023). Maternal distress and parenting during COVID-19: differential effects related to pre-pandemic distress? BMC Psychiatry23(1), 1–15. https://doi.org/10.1186/s12888-023-04867-w

Mota, E., Costa, S. R., & Brandão, T. (2023). Understanding happiness among university students: The role of general health, psychological well-being, and sociodemographic variables. Mediterranean Journal of Clinical Psychology11(1). https://doi.org/10.13129/2282-1619/mjcp-3589

Mulder, R. H., Bakermans-Kranenburg, M. J., Veenstra, J., Tiemeier, H., & van IJzendoorn, M. H. (2023). Facing ostracism: Micro-coding facial expressions in the cyberball social exclusion paradigm. BMC Psychology11(1), 1–14. https://doi.org/10.1186/s40359-023-01219-x

Pinho, J. S., Cunliffe, V., Kareklas,  K., Petri,G., & Oliveira, R. F. (2023). Social and asocial learning in zebrafish are encoded by a shared brain network that is differentially modulated by local activation. Communications Biology6(1), 1–13. https://doi.org/10.1038/s42003-023-04999-5

Ribeiro, P. R. (2023). Hypnosis and academia from an Iberian perspective. In Hypnosis in academia: Contemporary challenges in research, healthcare and education. (pp. 125–142). Springer Nature Switzerland AG. https://doi.org/10.1007/978-3-031-22875-9_8

Ribeiro-Gonçalves, J. A., Costa, P. A., & Leal, I. (2023). Double stigma in portuguese lesbian, gay, and bisexual older adults: A study of health status. Journal of Sex and Marital Therapy. https://doi.org/10.1080/0092623X.2023.2215258

Rubal, M., Fontoura, P., & Veiga, P. (2023). New records of marine tardigrades (Arthotardigrada) from the iberian peninsula: Biogeographical Implications. Diversity15(2), 210. https://doi.org/10.3390/d15020210

Santos, P. C., da Silva, W. R., Campos, J. A. D. B., & Marôco, J. (2023). Cross-cultural adaptation and psychometric investigation of the palatable eating motives scale (PEMS) for a sample of Brazilian adults. Current Psychology. https://doi.org/10.1007/s12144-023-04796-7

Saur, A. M., Barbieri, M. A., Bettiol, H., Sinval, J., Del-Ben, C. M., Batista, R. F. L., & Da Silva, A. A. (2023). The Postpartum Bonding Questionnaire: Validity evidence from the Brazilian version. Journal of Child and Family Studies32(6), 1776–1788. https://doi.org/10.1007/s10826-022-02406-x

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Sousa, M., Gonçalves, R. A., Cunha, O., & de Castro-Rodrigues, A. (2023). Intra and extra-familial child sexual abuse: The role of psychopathy. European Journal on Criminal Policy and Research. https://doi.org/10.1007/s10610-023-09551-z

Tavares, A. I., Assis, J., Larkin, P. D., Creed, J. C., Magalhães, K., Horta, P., Engelen, A., Cardoso, N., Barbosa, C., Pontes, S., Regalla, A., Almada, C., Ferreira, R., Abdoul, B. M., Ebaye, S., Bourweiss, M., dos Santos, C. V.-D., Patrício, A. R., Teodósio, A., & Santos, R. (2023). Long range gene flow beyond predictions from oceanographic transport in a tropical marine foundation species. Scientific Reports, 13(1), 1–12. https://doi.org/10.1038/s41598-023-36367-y

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